Sempre que falamos em design e os softwares usados na área, lembramos apenas da suíte Adobe e de alguns concorrentes como programas da Corel e Affinity. Quando colocamos softwares de código aberto nesta discussão, vemos aquele olhar de estranheza, desconfiança e pensamentos como: "a interface desses programas é horrível", "ele não faz isso", "nem aquilo", "demoro mais para fazer qualquer coisa nele", etc.
Temos que concordar que o histórico destes programas realmente justifica o preconceito. Nem sempre estes softwares foram bem pensados para os profissionais da área, parecendo aqueles sistemas sem usabilidade, criados somente por programadores.
Atualmente, não é o que ocorre com o Inkscape. Eu o tenho utilizado no dia-a-dia e ele se comporta de maneira bastante semelhante ao CorelDRAW. Para quem já o utilizou este último, a curva de aprendizado será pequena. Há inclusive a possibilidade de colocar os atalhos do Corel para deixar a experiência ainda mais simplificada.
Breve história
O Inkscape surgiu em 2003, como uma variante de um programa chamado Sodipodi.
Tela do Sodipodi: Sim, ele era feio assim...
A partir do código-fonte do Sodipodi, foi feita uma separação (fork) e deu-se então a implementação de um novo programa vetorial. Ao contrário do Sodipodi que o originou, o Inkscape tem a premissa de usar o formato SVG1 como o padrão para o programa. Boa parte das limitações do programa vem de seu formato base, o SVG, que não possui suporte a alguns recursos.
Desvantagens do Inkscape
- Sem CMYK: não há ainda suporte nativo ao formato de cores CMYK. Isto acaba limitando, mas não impossibilitando, a criação de layouts para impressão.
- Sem suporte a múltiplas páginas (artboards): devido à limitação imposta pelo formato SVG, que não possui uma especificação sobre páginas, o Inkscape também não tem uma implementação. Para contornar isto, dá para utilizar as camadas, e salvar cada uma como um arquivo separado na exportação final.
- Interface: se você é um pouco crítico quanto à interface do usuário vai achar a do Inkscape um pouco aquém do esperado, principalmente com relação aos ícones. Na versão 1.0 pelo menos, eles deram uma boa melhorada nesta área.
- Não é padrão dos profissionais: por usar o Inkscape, isto não significa que não deverá aprender o Illustrator, caso queira estar realmente pronto para o mercado de trabalho. No entanto, ao conhecer os conceitos de um programa, o aprendizado de outro se facilita.
- Instabilidade: ele pode ser um pouco instável às vezes, fechando sem avisar… Comigo isto só ocorreu em versões 'beta', não nas estáveis. Ou tive sorte, ou o programa não é tão instável assim.
Vantagens
- É de graça: não é preciso pagar para começar a usar. Não há licença, nem mensalidade.
- Grande comunidade na internet: vários tutoriais estão disponíveis na internet para ajudar o iniciante no software.
- Praticidade: as ferramentas do Inkscape parecem ser mais práticas de usar, comparando a algumas do Illustrator. Como exemplo, basta clicar uma segunda vez no objeto selecionado para ir para o modo de rotação, à la CorelDRAW.
- Leve: muito da minha crítica aos softwares atuais, é o quão pesados e lentos eles são. O Inkscape não sofre deste problema. Principalmente em sistemas baseados em Linux, que é a plataforma nativa do programa.
- Multiplataforma: está disponível para Mac, Windows e Linux.
E vale a pena?
Se você está interessado em utilizar um programa vetorial que não perde em quase nada para os concorrentes, vale. Ele tem tudo o que você precisa para fazer boas ilustrações, imagens para internet, mídias sociais, ícones, fontes, etc.
"Quase nada? E o CMYK?
Eu sem CMYK não consigo trabalhar!" Designer gráfico
Aí, realmente, vamos ter que aguardar esta implementação. Para designers que visam a impressão de seus trabalhos, infelizmente, não temos ainda um fluxo tão simples no Inkscape. No momento é necessária a importação do arquivo SVG gerado em outro aplicativo com suporte a CMYK, ou converter as cores usando ferramentas externas. Se você não está disposto a usar este fluxo, o Inkscape ainda não é para você.
Vocabulário
- SVG: Scalable Vector Graphics, gráficos vetoriais escalonáveis. Formato livre vetorial, bastante utilizado na internet por ser um arquivo compatível com navegadores na internet, sendo várias vezes mais interessantes para a criação de ícones e ilustrações.↩